Desfiles, semanas da moda e peças que não têm outra utilidade além de apresentar uma coleção. Tudo isto é posto em causa quando nos cruzamos com criadores como Olivier Rousteing (Balmain) e Rei Kawakubo (Comme des Garçons). Duas marcas distintas, é certo, mas com um elemento comum: a transformação dos desfiles de moda em espetáculos de arte que trazem uma nova abordagem à moda masculina.
As coleções apresentadas recentemente na Semana de Alta Costura de Paris são exemplo. A ruptura de cânones é cada vez mais evidente, num desafio à masculinidade em que o homem sai do lugar das peças práticas e sem emoção. Claro, haverá sempre quem arrisque mais e menos e não estamos aqui para discutir isso. Este post trata, sim, de reconhecer que a moda está cada vez mais sendo usada para passar uma mensagem e, sobretudo, para revolucionar pré-conceitos. Os desfiles de moda masculina transformam-se em espetáculos e isso é incontestável.
A coleção masculina para o outono-inverno 2016/17 apresentou uma mistura antagônica entre o estilo militar e o brilho de peças completamente cobertas por pequenos cristais, numa clara atenção ao pormenor e ao detalhe. Casacos, botas equestres, medalhas bordadas, xadrezes, homens que se transformaram em heróis românticos, na criação de uma verdadeira aristocracia da cultura pop. Perto do final do desfile a música, que até então tinha sido uma mistura alegre de Macklemore e Kanye West, ficou mais sombria, como que numa homenagem a Paris, cidade de tolerância e diversidade cultural.
Com a segurança reforçada em Paris era impossível não fazer a ligação destes desfiles de moda ao terror que se abateu sobre a cidade. Porque, tal como referido no início deste post, a moda deixa de ser associada ao vazio de conteúdo para ganhar o estatuto de forma de reação a um mundo em crise.