terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A NOVA ERA DA MODA MASCULINA


Desfiles, semanas da moda e peças que não têm outra utilidade além de apresentar uma coleção. Tudo isto é posto em causa quando nos cruzamos com criadores como Olivier Rousteing (Balmain) e Rei Kawakubo (Comme des Garçons). Duas marcas distintas, é certo, mas com um elemento comum: a transformação dos desfiles de moda em espetáculos de arte que trazem uma nova abordagem à moda masculina.

As coleções apresentadas recentemente na Semana de Alta Costura de Paris são exemplo. A ruptura de cânones é cada vez mais evidente, num desafio à masculinidade em que o homem sai do lugar das peças práticas e sem emoção. Claro, haverá sempre quem arrisque mais e menos e não estamos aqui para discutir isso. Este post trata, sim, de reconhecer que a moda está cada vez mais sendo usada para passar uma mensagem e, sobretudo, para revolucionar pré-conceitos. Os desfiles de moda masculina transformam-se em espetáculos e isso é incontestável.


A coleção masculina para o outono-inverno 2016/17 apresentou uma mistura antagônica entre o estilo militar e o brilho de peças completamente cobertas por pequenos cristais, numa clara atenção ao pormenor e ao detalhe. Casacos, botas equestres, medalhas bordadas, xadrezes, homens que se transformaram em heróis românticos, na criação de uma verdadeira aristocracia da cultura pop. Perto do final do desfile a música, que até então tinha sido uma mistura alegre de Macklemore e Kanye West, ficou mais sombria, como que numa homenagem a Paris, cidade de tolerância e diversidade cultural.



Uma vez mais o tema da batalha, do antagonismo entre a guerra e a paz. Peças inspiradas em armaduras misturaram-se com flores usadas na cabeça pelos modelos. A coleção explorou claramente o lado conflituoso da masculinidade, num verdadeiro trocadilho visual – peças formais e tradicionais, como blazers com ombros cheios estilo Samurai, foram adornados com mangas estampadas em cores berrantes e, em vez das máscaras aterrorizantes usadas pelos antigos guerreiros japoneses, surgiram coroas de flores na cabeça. No final, modelos vestidos de preto trouxeram buquês de flores, que foram vistos tanto como ofertas de paz como homenagens fúnebres.

Com a segurança reforçada em Paris era impossível não fazer a ligação destes desfiles de moda ao terror que se abateu sobre a cidade. Porque, tal como referido no início deste post, a moda deixa de ser associada ao vazio de conteúdo para ganhar o estatuto de forma de reação a um mundo em crise.




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